INFLUÊNCIA DA RESISTÊNCIA DO AR NO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL

21-05-2012 15:42

Apesar de redundante, não custa lembrar que o consumo de combustível é a energia necessária para viabilizar o deslocamento. Nesse deslocamento existem basicamente três demandas de energia:

• Manter o motor da moto na rotação necessária à manutenção de determinada velocidade com determinada carga (aí consideradas as características do motor quanto a torque e potência);
• Vencer o atrito dos pneus com o solo;
• Vencer a resistência oferecida pelo deslocamento no ar nessa velocidade, o que é definido como “arrasto aerodinâmico”.
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O fabricante BMW informa para cada modelo das suas motocicletas os seus consumos em diferentes velocidades. Para exemplificar*, o modelo R1200 GSA roda 21,7 km/litro a 90 km/h e 16,4 km/litro a 120 km/h. Trata-se de um aumento de consumo de 32% para um aumento da velocidade de 33%. Essas diferenças de consumo existem pelo que ocorre com cada uma das citadas três demandas de energia em cada regime de velocidade. Aqui eu não entrarei no mérito das diferenças de qualidade do combustível e nem dos diferentes estilos de condução.
 

Tendemos a dar pouca importância ao que não vemos e isso habitualmente ocorre com a importância que damos ao arrasto aerodinâmico. Sentado no carro com os vidros fechados ou numa moto com um bom parabrisa nós mal percebemos esse arrasto, mas ele ocorre e é uma força resistiva que ganha importância a partir dos 80 km/hora. Na prática, o que aumenta essa resistência do ar, ou “força de arrasto” ?

Resposta:
• A velocidade, mas não diretamente proporcional. O aumento do arrasto ocorre na proporção do quadrado da velocidade. Traduzindo em miúdos, de 100km/h para 120km/h o aumento do arrasto é de 44%; de 100km/h para 150km/h o aumento do arrasto é de 125%, mais do que o dobro da resistência.

• A área de referência. Uma moto mais alta e mais larga enfrentará maior resistência aerodinâmica do que uma moto mais baixa e mais estreita. A presença das malas laterais aumenta essa área de exposição.

• O coeficiente de arrasto, que depende do design do veículo. Uma moto de melhor formato aerodinâmico oferecerá menor resistência aerodinâmica. A presença das malas laterais e do top case prejudicam esse desempenho aerodinâmico.

• Como dito, a presença das malas laterais causa um duplo prejuízo ao arrasto: aumenta a área de exposição e prejudica o design aerodinâmico.

- Em outras palavras, as malas irão gerar uma turbulência que funcionará como freio aerodinâmico.

- Esse é o motivo que leva os pilotos de moto-velocidade a abrirem uma perna quando reduzem a velocidade para fazerem uma curva: freio aerodinâmico.

- Esse é o motivo das malas de alumínio da BMW informarem na parte interna das suas tampas os seguintes limites de velocidade: 180 km/h para a R1200GS e 160 km/h para a F800GS.

- A presença de parabrisa, o seu tamanho, o seu design e a regulagem da sua inclinação interferem na força de arrasto.

- Teoricamente existem outras variáveis que não são importantes nessa discussão prática sobre motociclismo, como a densidade do ar e a aspereza das superfícies. Foquei essa discussão na penetração aerodinâmica e não tratei da sustentação.

Assim ficam melhor entendidas as questões de aerodinâmica que geram variações no consumo de combustível em função da velocidade.

Como em outras questões do motociclismo e da vida, o bom senso é o melhor caminho na busca da solução mais equilibrada.


Manoel Moura

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